A perspectiva adotada é a
de que a sexualidade é um dispositivo histórico e não um dado da natureza ou
uma essência pertencente ao domínio interno dos sujeitos. De acordo com o
teórico francês Michel Foucault, a sexualidade é uma [...] grande rede da
superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a
incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e
das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes
estratégias de saber e poder (FOUCAULT, 1998, p. 100).
Nesse sentido, a proposta é discutir como as concepções de “prazer e
perigo” são construções discursivas encadeadas a partir de relações de
poder-saber. Um dos significados centrais construídos em nossa sociedade em
torno da noção de sexualidade é justamente a de que os prazeres sexuais são
perigosos, pois ameaçariam a ordem social. Esses prazeres, enquanto componentes
do dispositivo da sexualidade, no entanto, são construções sociais e históricas
baseados na heteronormatividade, que classifica determinadas pessoas,
coletividades e expressões da sexualidade como desviantes, anormais e
estigmatizantes, por não se enquadrarem em referências legítimas. No tocante às
práticas sexuais, expressões e manifestações de prazeres, esse dispositivo
histórico, que é heteronormativo, classifica a sexualidade como “boa” ou “má,
estabelecendo limites do que é permitido ou proibido e criminalizado.
Atualmente, presenciamos no contexto brasileiro um crescimento de
discursos conservadores que reforçam essa concepção, relacionando qualquer
menção à sexualidade não reprodutiva e heterossexual como algo ideológico e perigoso,
envolto de pânicos morais. De acordo com Stanley Cohen (1972), o conceito de pânicos morais serve para pensar na
maneira como a mídia, a opinião pública e os agentes de controle social reagem
a determinados rompimentos de padrões normativos. Esse conceito permite entendermos
como processos de mudanças sociais podem
causam grande temor e medo, uma vez que poriam em risco a estabilidade de
formatos tradicionais de instituições, como família, casamento, religião.
Nas Ciências Sociais e Humanas, a temática que envolve a sexualidade,
prazeres e perigos abarca uma grande amplitude de discussões, como pensar
questões referentes à orientações sexuais não normativas (LGBTQI), convenções
de erotismo, mercado de consumo de bens eróticos e pornográficos, práticas
sadomasoquistas e BDMS (bondage, disciplina, dominação e submissão),
prostituição, pedofilia, dentre outros. É visando ampliar esse campo de estudos
e dialogar com questões atuais, de cunho político, econômico e social que
propomos a temática do Evento Nacional.